domingo, 7 de dezembro de 2008
O homem e o meio ambiente
O Homem e suas versões para a Natureza e as versões naturais do homem! Em tempos de grandes ciclones e furacões, a natureza se manifesta de modo contundente, deixando o homem relegado à sua própria finitude e insignificância material. Não rara vez, o que se escuta na voz corrente é a frase: “a natureza está se vingando do homem e de suas ações sobre ela”. Será? Será vingança da natureza dar uma boa oportunidade de reflexão sobre nossas ações coletivas? Buscando um pouco sobre os primeiros relatos escritos através da história da humanidade, os salmos bíblicos são as primeiras manifestações na literatura escrita sobre a qual se pode ter fácil acesso. Conhecidos como livro de poemas líricos, os estudos a respeito dos salmos mostram que são textos para os quais se atribuem muitos autores, sendo o principal deles, o Rei Davi. Como gênero literário, podem ser classificados por suas formas estilísticas, das quais se destacam três grandes formatos, a saber, os hinos, as súplicas e as ações de graças. O corpo dos hinos descreve os motivos dos louvores, dos prodígios realizados por Deus, especialmente a sua obra criadora, e na história, particularmente a salvação concedida ao seu povo. Já nas súplicas, estão os salmos de sofrimento ou lamentações. Não cantam as glórias de Deus, mas dirigem-se a ele, e nisto diferem dos hinos. Geralmente as súplicas começam com uma invocação, acompanhada de um pedido de socorro, de uma prece ou de uma expressão de confiança. Nestes, procura-se comover a Deus descrevendo-lhe a triste situação dos suplicantes, com metáforas que são clichês e raramente permitem determinar as circunstâncias históricas ou concretas da oração: fala-se das águas, do abismo, dos laços da morte, de inimigos ou de feras (cães, leões, touros) que ameaçam ou dilaceram, de ossos que se secam ou se quebram, do coração que palpita e se apavora. Há protestos de inocência, confissões de pecado e outros salmos de penitência. Recorda-se a Deus seus benefícios antigos ou se lhe faz censura de parecer esquecido ou ausente. Muitas vezes a súplica termina, e de modo às vezes repentino, pela certeza de que a prece é atendida e por uma ação de graças e um agradecimento a Deus. Estas últimas, nunca são coletivas, mas, sempre, individuais. Contam os estudos da religião, que os homens que trabalhavam na terra e no mar antes da era cristã, reuniam-se todos os dias após a lida, para juntos fazerem suas preces, ou seja, a leitura de um salmo. E, ao final de cada um deles, amarravam uma rosa em um cordão. Ao cabo da leitura dos 150 salmos, coincidindo com o final da época da colheita ou da pesca, e passados 150 dias, amarravam as pontas do cordão, e assim, haviam rezado um rosário. O homem se entende no coletivo pelo trabalho, pela lida, pela luta, pelo pão de cada dia. Assim também é o cidadão! Todavia, em que ponto o cidadão de aparta da natureza a ponto de deixar de perceber suas belezas, talentos e capacidades? Os ciclos sazonais e as possibilidades reais de interação do homem no mundo natural são de apenas meio ano, restando a outra metade para que ele, através da cultura e do manejo, possa interagir e manter suas garantias sobre as provisões, e, talvez seja este o ponto crucial da relação homem natureza e todas as versões dela derivadas. Desde sempre, se recorre aos princípios da Hipótese de Gaia que, elaborada na Grécia Antiga descreve que “a natureza garante a perpetuação, a continuidade, o reinício, a manutenção da vida, dos ciclos e da vida humana”. E na sociedade capitalista? Gaia não entra, pois, quem sustenta a continuidade “é o capital, o lucro”. Autodeterminação, liberdade, transcendência e comunidade? Educação Ambiental! Talvez porque o senso comunitário pouco atinja as questões de desenvolvimento em grande escala e pouco consiga contestar o que é ser civilizado posto que, ainda não se demonstrou um rumo redentor de nossas próprias mazelas, a educação ambiental hoje, vem sendo mais bem oportunizada pela educação para o desenvolvimento sustentável. Todavia pretende-se aqui enfatizar que há um elemento despercebido neste contexto em que, sustentabilidade não é necessariamente manutenção, mas sim, uma nova filosofia que tenta ser construída a partir das novas urgências globais. Conforme Morin, lentum in umbra (lento na sombra da poesia), vem se preparando uma era metatécnica, ou seja, uma terceira revolução tecnológica em que a lógica cerebral natural rompe com a idéia de que é preciso alinhar todas as sociedades pelo tempo mais rápido, o tempo cronometrado, o tempo ocidental. Ao contrário do que se pensa, a sustentabilidade nos levará a viver a complementaridade dos tempos diferentes, contendo a invasão do tempo cronometrado e destacando a prevalência dos “tempos interiores”, dos “tempos das emoções” e das “reformas interiores”, das “reformas do sentir” e conviver com o diferente. Caráter global porque humaniza o homem, hominiza a sociedade dando novos contornos ao conceito de ser civilizado, emancipando a comunidade global da crise da civilização tecnológica, porque traz o homem para ser humano. De fato, para as tais reformas interiores talvez haja a necessidade de reconhecer que, as reformas exteriores já aconteceram, para só então legitimar um movimento autêntico, que emane de dentro para fora, e não o contrário. Quando a sociedade puder se ver refletida no movimento ambientalista e nas questões ambientais, aí sim, com um discurso mais próprio, poderá convencer ao homem simples de suas intenções e autenticidade para que, de modo amplo, exista uma cooperação espontânea, ou seja, para além das urgências dos acidentes e dos crimes ambientais. Mesmo porque o povo brasileiro não tem nada de Sísifo, que, herói do trabalho infrutífero, não consegue ser superior ao seu destino. Do mesmo modo que o sofrimento sem limites é pesado demais para ser suportado, as verdades esmagadoras perecem quando se tornam conhecidas! O fim do século XX descobriu a Terra-sistema, a Terra Gaia, a Biosfera, a Terra parcela cósmica. Porém, ao século XXI, caberá desvendar e descobrir a Terra Pátria; aquela que nos pertence porque pertencemos a ela.
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